sábado, 5 de abril de 2014



É possível ter Jesus como amigo porque, tendo ressuscitado, ele está vivo, está ao meu lado
Na quarta pregação da Quaresma Pe. Cantalamessa fala do dogma cristológico e do desejo de Jesus de ser nosso amigo
Por Laura Guadalupe
ROMA, 04 de Abril de 2014 Existem várias vias de acesso ao mistério de Cristo. Padre Raniero Cantalamessa, na sua quarta pregação de Quaresma, continua o caminho traçado da Tradição da Igreja: o “dogma cristológico”, compreendido como “as verdades fundamentais sobre Cristo, definidos nos primeiros concílios ecumênicos, especialmente no de Calcedônia”. Em definitiva tais verdades, continua o Capuchinho, “se reduzem aos seguintes três pilares: Jesus Cristo é verdadeiro homem, é verdadeiro Deus, é uma só pessoa”.

O pregador da Casa Pontifícia escolhe São Leão Magno para entrar nas profundezas do mistério cristológico. De fato, ele foi o papa reinante no momento em que a teologia latina e aquela grega se encontraram. São Leão Magno não se limitou a transmitir a fórmula de Tertulliano, que tinha escrito: “Vemos duas naturezas, não confusas, mas unidas em uma pessoa, Jesus Cristo, Deus e homem”. Foi mais longe, adaptando a fórmula “aos problemas que surgiram nesse meio tempo, entre o concílio de Éfeso do 431 àquele de Calcedônia do 451”.

Padre Cantalamessa observa que o pensamento cristológico do Papa Leão, exposto no Tomus ad Flavianum, encontra-se no cerne da definição de Calcedônia. Cita, portanto, o ponto em que se declara: "Ensinamos por unanimidade que deve-se reconhecer o único e mesmo Filho Senhor nosso Jesus Cristo, perfeito na divindade e sempre o mesmo perfeito na humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem [...], gerado antes dos séculos pelo Pai segundo a divindade e nos últimos tempos, por nós homens e para a nossa salvação, gerado por Maria Virgem segundo a humanidade; subsistente nas duas naturezas de modo inconfuso, imutável, indivisível, inseparável, não sendo de forma alguma suprimida a diferença das naturezas por causa da união, pelo contrário, permanecendo preservada a propriedade tanto de uma quanto da outra natureza, elas combinam para formar uma só pessoa e hipóstase”

Na fórmula de Calcedônia, diz o capuchinho, "repousa toda a doutrina cristã da salvação”. De fato, "só se Cristo é homem como nós, o que ele faz, nos representa e nos pertence, e somente se ele mesmo é Deus, aquilo que faz tem um valor infinito e universal”, tanto que, como se canta no Adoro te devote, “somente uma gota do sangue que derramou salva o mundo todo do pecado”. É este um tema sobre o qual o oriente e o ocidente são unânimes.


Texto completo da quarta pregação de Advento do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap.
São Leão Magno e a fé em Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem
Por Pe. Raniero Cantalamessa, OFM Cap
ROMA, 04 de Abril de 2014  1. Oriente e ocidente unânimes sobre Cristo
Existem vários caminhos, ou métodos, para aproximar-se à pessoa de Jesus. Pode-se, por exemplo, partir diretamente da Bíblia e, também neste caso, é possível seguir várias vias: a via tipológica, seguida na mais antiga catequese da Igreja, que explica Jesus à luz das profecias e das figuras do Antigo Testamento; a via histórica, que reconstrói o desenvolvimento da fé em Cristo a partir das várias tradições, autores e títulos cristológicos, ou dos diversos ambientes culturais do Novo Testamento. Pode-se, pelo contrário, partir das perguntas e dos problemas do homem de hoje, ou até mesmo da própria experiência de Cristo, e, de tudo isso, chegar à Bíblia. Todos esses são caminhos amplamente explorados.

A Tradição da Igreja elaborou, bem rápido, uma via de acesso ao mistério de Cristo, um modo seu de recolher e organizar os dados bíblicos relativos a ele, e esta via se chama o dogma cristológico, a via dogmática. Por dogma cristológico compreendo as verdades fundamentais sobre Cristo, definidos nos primeiros concílios ecumênicos, especialmente o de Calcedônia, que, em substância, se resumem nesses três pilares: Jesus Cristo é verdadeiro homem, é verdadeiro Deus, é uma só pessoa.

São Leão Magno é o Padre que eu escolhi para introduzir-nos nas profundidades deste mistério. Por um motivo bem específico. Na teologia latina estava pronta por dois séculos e meio a fórmula da fé em Cristo que se tornara o dogma de Calcedônia. Tertuliano tinha escrito: “Vemos duas naturezas, não confusas, mas unidas em uma pessoa, Jesus Cristo, Deus e homem[1]”. Depois de muita pesquisa, os autores gregos chegam, por conta própria, a uma formulação idêntica em substância; mas não porque eles tenham se atrasado ou perdido tempo, e sim porque só agora era possível dar àquela fórmula o seu verdadeiro significado, tendo eles evidenciado, enquanto isso, todas as implicações e resolvido as dificuldades.

O Papa São Leão Magno é aquele que gerenciou o momento em que as duas correntes do rio – aquela latina e aquela grega – se uniram e com a sua autoridade de bispo de Roma favoreceu o acolhimento universal. Ele não se contenta em simplesmente transmitir a fórmula herdada por Tertuliano e retomada por Agostinho, mas a adapta aos problemas que apareceram nesse ínterim, entre o concílio de Éfeso do 431 e aquele de Calcedônia do 451. Eis, em grandes linhas, o seu pensamento cristológico, como foi exposto no famoso Tomus ad Flavianum[2].

O profeta luta contra quem
engaiola o Espírito Santo

Francisco lembra-nos que anunciar o Evangelho
acarreta perseguições e incompreensões

Quando anunciamos o Evangelho, enfrentamos a perseguição, recordou o papa Francisco na homilia da missa desta manhã, celebrada na capela da Casa Santa Marta. O pontífice reiterou que há hoje mais mártires do que nos primeiros tempos da Igreja e instou os fiéis a não terem medo das incompreensões nem das perseguições.

O Santo Padre desenvolveu a homilia com base na primeira leitura da missa, uma passagem do livro da Sabedoria. Ele destacou que os inimigos de Jesus preparam armadilhas, trabalham "com calúnias, matam a boa fama". É como se eles preparassem "o caldo para destruir o Justo", que se opõe às suas ações. Ao longo da história da salvação, observou Francisco, "os profetas sempre foram perseguidos" e o próprio Jesus o declara aos fariseus. Sempre, "na história da salvação, no tempo de Israel, inclusive na Igreja, os profetas foram perseguidos". Perseguidos porque dizem: "Vocês erraram de caminho! Voltem para os caminhos de Deus!". E isto "desagrada às pessoas que têm o poder do mau caminho".

"O Evangelho de hoje é claro, não é? Jesus se escondia, nos últimos dias, porque ainda não tinha chegado a sua hora. Mas Ele sabia qual ia ser o seu fim, como ia ser o seu fim. E Jesus é perseguido desde o princípio: recordamos que, no início da sua pregação, ele volta para a sua cidade, vai à sinagoga e prega; imediatamente, depois de uma grande admiração, eles começam: 'Mas este nós sabemos de onde veio. Ele é um dos nossos. Com que autoridade ele vem nos ensinar? Onde é que ele estudou?'. Tentam desqualificá-lo! É sempre o mesmo discurso, não é? 'Mas este nós sabemos de onde é!’ Só que Cristo, quando vier, ninguém saberá de onde é! Eles tentam desqualificar o Senhor, desqualificar o profeta para minar a sua autoridade!".

sexta-feira, 4 de abril de 2014


A oração é uma luta com Deus, travada com liberdade e insistência, como um diálogo sincero com um amigo. Este é o tipo de oração que muda o nosso coração, porque nos faz saber melhor como Deus é realmente. Esta foi a ideia central do Santo Padre na homilia desta quinta-feira, na missa celebrada na Casa Santa Marta.

Francisco recordou o diálogo de Moisés no monte Sinai, quando Deus quis castigar o seu povo por ter criado um ídolo: o bezerro de ouro. E Moisés rezou com força para que o Senhor “repensasse”. "Esta oração é uma verdadeira luta com Deus. E Moisés fala livremente diante do Senhor e nos ensina como rezar, sem medo, livremente, e com insistência. Moisés insiste. É valente. A oração também tem que ser um 'negociar com Deus', com 'argumentações'", afirmou o papa. Moisés acaba convencendo Deus: a leitura nos diz que "o Senhor se arrependeu do mal com que tinha ameaçado o seu povo". Mas, perguntou o Santo Padre, "quem foi que mudou mesmo? Nosso Senhor mudou? Eu acho que não".

Francisco explicou: "Quem mudou foi Moisés, porque Moisés achava que Deus ia fazer aquilo, que Deus ia destruir o seu povo, e ele procura, na sua memória, a lembrança do quanto Deus tinha sido bom com o seu povo, como o tinha livrado da escravidão no Egito e levado para uma terra prometida. E, com esses argumentos, ele tenta ‘convencer’ a Deus, mas, neste processo de reflexão, é ele quem reencontra a memória do seu povo, é ele quem encontra a misericórdia de Deus. E Moisés, que tinha medo, medo que Deus fizesse aquilo, no fim desce do monte com algo grandioso no coração: nosso Deus é misericordioso! Deus sabe perdoar. Deus pode ‘voltar atrás’ nas suas decisões. É um Pai".

Francisco observou que Moisés sabia de tudo isso, "mas sabia mais ou menos obscuramente; e na oração, ele reencontra [essa sabedoria]. É isto o que a oração faz em nós: ela muda o nosso coração".

O Santo Padre completou: "A oração muda o nosso coração. Ela nos faz entender melhor como é o nosso Deus. Mas por isso é importante falar com Ele não com palavras vazias; Jesus diz: 'não como fazem os pagãos'. Não, não. Falar com a realidade: 'Olha, Senhor, eu tenho este problema, na família, com o meu filho, com isso, com aquilo... O que é que eu posso fazer? Mas olha, você não pode me deixar assim'! Isto é oração! Mas essa oração exige muito tempo! Sim, ela exige tempo".

«A oração muda-nos o coração», diz papa Francisco | Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

«A oração muda-nos o coração», diz papa Francisco | Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

terça-feira, 1 de abril de 2014


Angelus: Papa Francisco alerta sobre o perigo da cegueira interior

Antes de rezar o Angelus com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, o Papa comentou o Evangelho do dia

CIDADE DO VATICANO, 31 de Março de 2014 - Antes de rezar a oração do Angelus com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro neste domingo, 30 de março, o Papa Francisco falou da passagem evangélica que retrata a cura, realizada por Jesus,  do homem cego. Eis o texto na íntegra:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia

O Evangelho de hoje nos apresenta o episódio do homem cego de nascença, ao qual Jesus doa a visão. A longa história começa com um cego que começa a ver e se fecha – é curioso isto – com as supostas pessoas que veem que continuam a permanecer cegas na alma. O milagre é narrado por João em apenas dois versículos, porque o evangelista quer atrair a atenção não sobre o milagre, mas sobre o que acontece depois, sobre as discussões que suscita; também sobre as fofocas, tantas vezes uma obra boa, uma obra de caridade suscita fofocas e discussões, porque há alguns que não querem ver a verdade. O evangelista João quer atrair a atenção sobre isso que acontece também nos nossos dias quando se faz uma obra boa. O cego curado primeiro é interrogado pela multidão atônita – viram o milagre e o interrogam – depois pelos doutores da lei; e estes interrogam também seus pais. Ao final, o cego curado  chega à fé, e esta é a maior graça que lhe é feita por Jesus: não somente de ver, mas de conhecê-Lo, vê-Lo como “luz do mundo” (Jo 9, 5).

Enquanto o cego se aproximava gradualmente da luz, os doutores da lei, ao contrário, caíam sempre mais em sua cegueira interior. Fechados em suas presunções, acreditam já ter a luz; e por isso não se abrem à verdade de Jesus. Fizeram de tudo para negar a evidência. Colocaram em dúvida a identidade do homem curado; depois negaram a ação de Deus na cura, adotando como desculpa que Deus não age de sábado; chegaram até a duvidar que aquele homem tivesse nascido cego. O seu fechamento à luz torna-se agressivo e acaba na expulsão do homem curado do templo.

Homilia do papa: Francisco alerta sobre os cristãos errantes

O Santo Padre nos pede confiar nas promessas de Deus

Este foi o ensinamento que o papa Francisco extraiu das leituras da missa de hoje e apresentou em sua homilia na capela da Casa Santa Marta.

Há cristãos que confiam nas promessas de Deus e as seguem ao longo da vida. Há outros cuja vida de fé fica estancada. Outros ainda têm a certeza de estar progredindo, mas, na verdade, só fazem “turismo existencial”. O papa distinguiu três tipos de crentes, que têm como comum denominador o fato de saberem que a vida cristã é um percurso, mas que divergem no modo de segui-lo ou que não o seguem de forma nenhuma.

Inspirando-se na passagem de Isaías, da primeira leitura, Francisco explicou que Deus sempre “promete antes de pedir”. E acrescentou que a promessa de Deus é a de uma vida nova, de uma vida de alegria. Este é “o fundamento principal da virtude da esperança: confiar nas promessas de Deus”, sabendo que Ele jamais “decepciona”, já que a essência da vida cristã é “caminhar rumo às promessas”.

Há também os cristãos que sofrem “a tentação de parar”: “Há tantos cristãos parados! Tantos que têm uma esperança frágil! Eles acreditam, sim, que existe o céu e que tudo vai dar certo. É bom que eles acreditem, mas eles não vão atrás! Cumprem os mandamentos, os preceitos: tudo, tudo… Mas ficam parados. Nosso Senhor não pode transformá-los em fermento no povo, porque eles não caminham. E isto é um problema: os cristãos parados. Depois, há outros que erram de caminho: todos nós, de vez em quanto, erramos de caminho, já sabemos disso. O problema não é errar de caminho; o problema é não voltar atrás quando nos damos conta”.

O modelo de quem crê e segue o que a fé indica é o funcionário do rei descrito no Evangelho, que pede a Jesus a cura de um filho doente e não duvida nem mesmo por um instante em ir para casa quando o Mestre lhe assegura que o pedido já está atendido. Oposto a esse homem, afirmou o Santo Padre, temos o grupo “talvez mais perigoso”, o daqueles que “enganam a si mesmos: os que caminham, mas não seguem o caminho”.

“São os cristãos errantes: eles dão voltas e mais voltas, como se a vida fosse um turismo existencial, sem meta, sem levar as promessas a sério. Aqueles que dão voltas e se enganam, porque dizem: ‘Eu estou caminhando!’. Não, você não está caminhando: você está só dando voltas. Os errantes… Nosso Senhor nos pede para não parar, para não errar de caminho e não ficar dando voltas pela vida. Dar voltas pela vida... Ele nos pede para olhar para as promessas, para irmos em frente como aquele homem: aquele homem acreditou na palavra de Jesus! A fé nos coloca no caminho das promessas. A fé nas promessas de Deus”.

Papa Francisco apela à conversão dos cristãos «turistas existenciais» | Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

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Jesus, uma boa notícia | Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

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