Um Papa que renuncia é um evento
que não acontece todos os dias, de fato, para ser mais preciso, não acontecia há
600 anos. Ainda são muitas, portanto, as curiosidades e perguntas que animam a
imprensa e as pessoas comuns. No briefing de hoje com os jornalistas, no qual se
apresentou o calendáro dos últimos eventos do Pontificado de Bento XVI, padre
Federico Lombardi respondeu a várias questões sobre o que acontecerá antes e
depois do fatídico 28 de fevereiro.
De particular importância são as informações fornecidas pelo porta-voz
vaticano sobre o início do Conclave. De acordo com o previsto pela Constituição
– explicou – a partir do começo da sede vacante abre-se espaço para as
congregações dos cardeais.
Esses momentos serão muito importantes, mas também delicados, durante os
quais, além das várias obrigações legais, se prevém conversações e intercâmbios
entre cardeais sobre os problemas a serem resolvidos e a situação da Igreja, “de
modo a amadurecer também para os membros do colégio, critérios e informações
uteis sobre as eleições”.
"Há um trabalho que não leva às eleições rapidamente – sublinhou Lombardi –
um discernimento que deve ser feito pelo colégio que chega até os dias chaves do
conclave e eleição com uma preparação”. Por isso, a normativa prevê que o começo
do conclave tenha que ser estabelecido entre 15 e 20 dias desde o começo da sede
vacante.
Portanto – continuou o diretor da Sala de Imprensa vaticana – “se tudo correr
normalmente, espera-se que o conclave possa começar entre o 15 e o 19 de Março",
embora se ainda "não seja possível dar uma data exata porque são os cardeais que
estabelecerão exatamente o calendário”.
Com relação às perguntas do nome e da vestimenta de Bento XVI depois do 28 de
fevereiro, padre Lombardi declarou que, "ainda que essas questões possam parecer
secundárias e formais”, exigem “importantes aspectos de caráter jurídico e
implicações sobre as quais refletir, nas quais o Papa mesmo está envolvido”.
Portanto, atualmente, não existem informações confiáveis.
Não haverá também um momento especialmente significativo ou juridicamente
relevante que identificará o final do Pontificado do Papa Ratzinger. As normas
do código de direito canônico – explicou Lombardi – prevém a opção de que o Papa
possa renunciar ao seu ministério, com a condição de que a decisão seja “tomada
livremente e manifestada devidamente”. "Isso o Papa fez - disse ele -. Então,
não há nada mais a ser feito, a renúncia é válida na sua forma, dado que
segunda-feira foi feita em latim, assinada pelo Papa e pronunciada na frente dos
cardeais”.
Os mesmos cardeais que, diante das palavras do Papa mostraram vivamente a sua
admiração, Sua Eminência Sodano em primeiro lugar... Mas agora, depois de três
dias do shock inicial da notícia, qual é o espírito que paira no vaticano? A
questão é curiosa e Pe. Lombardi responde que “para muitos o estado de ânimo
fundamental ainda é de surpresa, e portanto de reflexão sobre o significado que
esta decisão comporta para a Igreja e para a Cúria romana que está
envolvida”.
"De minha parte - acrescentou - tenho um sentimento de grande admiração por
esta decisão livre, humilde, responsável, lúcida do Santo Padre, com as
motivações claríssimas que o levou à avaliação das suas forças que diminuem e do
bem da Igreja”.
"Todos nós o vimos tornar-se mais frágil – continuou – ainda que esta
avaliação competia só à ele avaliar a gravidade ou seriedade. Estou admirado
pelo fato de que o Papa tenha feito este exame tendo vivido plenamente o seu
ministério até hoje, e é admirável que ele analise “Cumpri o meu ministério até
hoje, agora para que seja levado adiante adequadamente no mundo atual,
precisa-se de mais forças”.
A renúncia de um Papa ao seu próprio ministério, reiterou o porta-voz da
Santa Sé, “não foi inventada por Bento XVI”, ele “somente a colocou em prática,
mostrando uma grande coragem para utilizá-la primeiro desta forma, com um
espírito de fé e de amor à Igreja”.
E justamente por causa desta forte ligação com a Igreja e pela grande
discrição e sabedoria que desde sempre caracteriza a sua personalidade, Bento
XVI, apesar de que a partir do 1 º de março estará livre para mover-se dentro do
Estado da Cidade do Vaticano, irá abster-se de toda forma de comunicação ou
interferência.
Tanto a nível pessoal com os cardeais ou outros homens da Cúria, para deixar
claro a sua plena liberdade e autonomia (isso justifica também a escolha de ir
por um tempo para Castel Gandolfo). Seja a nível público, evitando declarações
que poderiam “dar origem a um sentido de interferência ou de tomadas de posição
influenciantes”. Porém, destacou Lombardi, “se trata-se de escrever um texto
teológico espiritual, alimento útil para o Povo de Deus, é bem possível que isso
aconteça”.
Por este motivo, o padre Lombardi disse, "não há nenhuma preocupação por
parte do colégio cardenalício de que o Papa continue a residir no Vaticano”. Na
verdade, “é uma sábia decisão permanecer dentro dos muros vaticanos, com a sua
possibilidade de estudar e rezar. E também os cardeais estarão felizes de ter
muito próximo uma pessoa que mais do que todas pode compreender quais são as
necessidades espirituais da Igreja e do sucessor de Pedro”.