sábado, 21 de julho de 2012

Naquele tempo, 30os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado.
31Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer.
32Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. 33Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé, e chegaram lá antes deles.
34Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas.

quarta-feira, 18 de julho de 2012


A elegância de uma alma que se desprende no louvor a Deus

Carta de Bento XVI por ocasião do 'Ano Clariano'

Apresentamos a seguir a carta do Papa Bento XVI ao Bispo de Assis-Nogera Umbra-Gualdo Tadino por ocasião do Ano Clariano.

Ao Venerado irmão Domenico Sorrentino Bispo de Assis



Foi com alegria que tomei conhecimento de que nessa Diocese, assim como entre os Franciscanos e as Clarissas do mundo inteiro, se está a recordar santa Clara com um «Ano Clariano», por ocasião do VIII centenário da sua «conversão» e consagração. Tal evento, cuja datação oscila entre 1211 e 1212, completava, por assim dizer, «o feminino» a graça que tinha alcançado poucos anos antes a comunidade de Assis com a conversão do filho de Pietro de Bernardone. E, como acontecera para Francisco, também na decisão de Clara se escondia o rebento de uma nova fraternidade, a Ordem clariana que, tornando-se uma árvore frondosa, no silêncio fecundo dos claustros continua a espalhar a boa semente do Evangelho e a servir a causa do Reino de Deus.
Esta feliz circunstância impele-me a voltar idealmente a Assis, para meditar com Vossa Excelência, venerado Irmão, com a comunidade que lhe foi confiada e, igualmente, com os filhos de são Francisco e as filhas de santa Clara, sobre o sentido deste acontecimento. Com efeito, ele fala também à nossa geração, e tem um fascínio sobretudo para os jovens, aos quais dirijo o meu pensamento carinhoso por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, celebrada este ano, segundo a tradição, nas Igrejas particulares precisamente neste dia do Domingo de Ramos.
É a própria Santa que fala, no seu Testamento, da sua escolha radical de Cristo em termos de «conversão» (cf. FF 2825). É a partir deste aspecto que me apraz começar, quase retomando o discurso feito em referência à conversão de Francisco no dia 17 de Junho de 2007, quando tive a alegria de visitar esta Diocese. A história da conversão de Clara centra-se na festa litúrgica do Domingo de Ramos. Com efeito, o seu biógrafo escreve: «Estava próximo o dia solene dos Ramos, quando a jovem foi ter com o homem de Deus para lhe perguntar sobre a sua conversão, quando e de que modo devia agir. Padre Francisco ordena que no dia da festa, elegante e ornamentada, vá aos Ramos no meio da multidão do povo, e depois na noite seguinte, saindo da cidade, transforme a alegria mundana no luto do domingo da Paixão. Portanto, quando chegou o dia de domingo, no meio das outras mulheres, a jovem, resplandecente de luz festiva, entra com as outras na igreja. Ali, com prenúncio digno, aconteceu que, enquanto os outros corriam para receber os ramos, Clara, por pudor, permaneceu imóvel e então o Bispo, descendo os degraus, chegou até ela e depôs o ramo na suas mãos» (Legenda Sanctae Clarae virginis, 7: FF 3168).

Tinha passado cerca de seis anos desde que o jovem Francisco empreendera o caminho da santidade. Nas palavras do Crucifixo de São Damião — «Vai, Francisco, repara a minha casa» — e no abraço aos leprosos, Rosto sofredor de Cristo, ele tinha encontrado a sua vocação. Disto brotara o gesto libertador do «despojamento» na presença do Bispo Guido. Entre o ídolo do dinheiro que lhe fora proposto pelo pai terreno, e o amor de Deus que prometia encher o seu coração, não teve dúvidas, e com ímpeto exclamara: «De agora em diante poderei dizer livremente:Pai nosso, que estais no Céu, e não já pai Pietro de Bernardone» (Segunda Vida, 12: FF 597). A decisão de Francisco tinha desconcertado a Cidade. Os primeiros anos da sua nova vida foram caracterizados por dificuldades, amarguras e incompreensões. Mas muitos começaram a meditar. Também a jovem Clara, então adolescente, foi sensibilizada por este testemunho. Dotada de um acentuada sentido religioso, foi conquistada pela «mudança» existencial daquele que tinha sido o «rei das festas». Achou o modo de o encontrar e deixou-se envolver pelo seu fervor por Cristo. O biógrafo faz um esboço do jovem convertido, enquanto instrui a nova discípula: «Padre Francisco exortava-a ao desprezo pelo mundo, demonstrando-lhe com uma palavra viva que a esperança deste mundo é árida e traz desilusão, e instilava nos seus ouvidos a dócil união de Cristo» (Vita Sanctae Clarae Virginis, 5: FF 3164).~

Segundo o Testamento de Santa Clara, ainda antes de receber outros companheiros, Francisco tinha profetizado o caminho da sua primeira filha espiritual e das suas irmãs de hábito. Com efeito, enquanto trabalhava pela restauração da igreja de São Damião, onde o Crucifixo lhe tinha falado, anunciara que aquele lugar teria sido habitado por mulheres que glorificariam Deus com o seu santo teor de vida (cf. FF 2826; cf. Tomás de Celano, Segunda Vida, 13: FF 599). O Crucifixo original encontra-se agora na Basílica de Santa Clara. Aqueles grandes olhos de Cristo, que tinham fascinado Francisco, tornaram-se o «espelho» de Clara. Não é por acaso que o tema do espelho lhe será tão querido e, na iv carta a Inês de Praga, escreverá: «Fixa todos os dias este espelho, ó rainha esposa de Jesus Cristo, e nele perscruta continuamente o teu rosto» (FF 2902). Nos anos em que se encontrava com Francisco para aprender dele o caminho de Deus, Clara era uma jovem atraente. O Pobrezinho de Assis mostrou-lhe uma beleza superior, que não se mede com o espelho da vaidade, mas desenvolve-se numa vida de amor autêntico, nas pegadas de Cristo Crucificado. Deus é a beleza verdadeira! O coração de Clara iluminou-se com este esplendor e isto incutiu-lhe a coragem de deixar que lhe cortassem os cabelos e de começar uma vida penitente. Para ela, como para Francisco, esta decisão foi marcada por muitas dificuldades. Se alguns familiares a compreenderam sem dificuldade, e a mãe Ortolana e duas irmãs até a seguiram na sua escolha de vida, outros reagiram violentamente. A sua fuga de casa, na noite entre o Domingo de Ramos e a Segunda-Feira Santa, teve aspectos aventurosos. Nos dias seguintes foi perseguida nos lugares onde Francisco lhe tinha preparado um refúgio e tentaram em vão, até com a força, fazê-la renunciar ao seu propósito.
Clara preparara-se para esta luta. E se Francisco era o seu guia, um apoio paterno vinha-lhe também do Bispo Guido, como vários indícios sugerem. Explica-se assim o gesto do Prelado que se aproximou dela para lhe oferecer o ramo, como que para abençoar a sua escolha corajosa. Sem o apoio do Bispo, dificilmente teria sido possível realizar o projecto idealizado por Francisco e levado a cabo por Clara, quer na consagração que ela fez de si mesma na igreja da Porciúncula na presença de Francisco e dos seus frades, quer na hospitalidade que recebeu nos dias seguintes no mosteiro de São Paulo das Abadessas e na comunidade de «Sant’Angelo in Panzo», antes da chegada definitiva a São Damião. A vicissitude de Clara, como a de Francisco, demonstra assim uma característica eclesial particular. Nela encontram-se um Pastor iluminado e dois filhos da Igreja que se confiam ao seu discernimento. Instituição e carisma interagem maravilhosamente. O amor e a obediência à Igreja, tão acentuados na espiritualidade franciscano-clariana, afundam as raízes nesta bonita experiência da comunidade cristã de Assis, que não só gerou para a fé Francisco e a sua «plantinha», mas também os acompanhou com a mão pelo caminho da santidade.

Francisco tinha visto bem a razão para sugerir a Clara a fuga de casa, no início da Semana Santa. Toda a vida cristã, e portanto também a vida de consagração especial, constituem um fruto do Mistério pascal e uma participação na morte e na ressurreição de Cristo. Na liturgia do Domingo de Ramos, dor e glória entrelaçam-se, como um tema que depois se desenvolve nos dias seguintes, através da obscuridade da Paixão, até à luz da Páscoa. Com a sua escolha, Clara revive este mistério. No dia dos Ramos recebe, por assim dizer, o seu programa. Depois, entra no drama da Paixão, cortando os seus cabelos e com eles renunciando inteiramente a si mesma para ser esposa de Cristo na humildade e na pobreza. Francisco e os seus companheiros já são a sua família. Depressa chegarão irmãs de hábito também de terras distantes, mas os primeiros rebentos, como no caso de Francisco, despontarão precisamente em Assis. Ea Santa permanecerá para sempre vinculada à sua Cidade, demonstrando-o especialmente em certas circunstâncias difíceis, quando a sua oração poupou a Assis violência e devastação. Então, disse às irmãs de hábito: «Caríssimas filhas, desta cidade recebemos todos os dias muitos bens; seria muito ímpio se não lhe prestássemos socorro, como podermos no tempo oportuno» (Legenda Sanctae Clarae Virginis23: FF 3203).

A obra de Cristo e da Igreja jamais regride, mas sempre progride

Angelus de Bento XVI em Castel Gandolfo

CASTEL GANDOLFO, domingo, 15 de julho de 2012(ZENIT.org) – Bento XVI após Visita Pastoral à cidade de Frascati retornou a Castel Gandolfo de onde conduziu ao meio dia a tradicional oração mariana do Angelus.
Apresentamos as palavras dirigidas aos fiéis e peregrinos reunidos no pátio interno da residência pontifícia de Castel Gandolfo :
Queridos irmãos e irmãs!
No calendário litúrgico o dia 15 de julho faz memória a São Boaventura de Bagnoregio, franciscano, doutor da Igreja, sucessor de São Francisco de Assis na condução da Ordem dos Frades Menores.
Ele escreveu a primeira biografia oficial do Poverell’, e no final da vida foi Bispo desta Diocese de Albano. Numa carta, Boaventura escreve: “Confesso diante de Deus que a razão que mais me fez amar a vida do beato Francisco é que ela se assemelha ao início e ao crescimento da Igreja”(Epistula de tribus quaestionibus, na Obra de São Boaventura, Introdução Geral, Roma 1990, p.29).
Estas palavras nos remetem diretamente ao Evangelho deste domingo, que apresenta o primeiro envio em missão dos Doze Apóstolos por parte de Jesus “Chamou a si os doze, e começou a enviá-los a dois e dois, e deu-lhes poder sobre os espíritos imundos;
E ordenou-lhes que nada tomassem para o caminho, senão somente um bordão; nem alforje, nem pão, nem dinheiro no cinto; Mas que calçassem alparcas, e que não vestissem duas túnicas. (Mc 6, 7-9).
Francisco de Assis, depois de sua conversão, praticou ao ‘pé da letra’ este Evangelho, tornando-se uma fidelíssima testemunha de Jesus ; e associado de maneira singular ao mistério da Cruz, foi transformado num ‘outro Cristo’, como o próprio São Boaventura o apresente.”.
Toda a vida de São Boaventura, assim como sua teologia têm como centro inspirador Jesus Cristo. Esta centralidade de Cristo reencontramos na segunda Leitura da Missa de hoje (Ef 1, 3-14), o célebre hino da Carta de São Paulo aos Efésios, que inicia assim: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”.O apóstolo mostra então como se realizou este designo em quatro passagens que começam com a mesma expressão ‘Nele’, referindo à Jesus Cristo. ‘Nele’ o Pai nos escolheu antes da fundação do mundo; ‘Nele’ fomos redimidos mediante o seu sangue; ‘Nele’ nos tornamo herdeiros, predestinados a ser ‘louvor de sua glória’; ‘Nele’aqueles que crêem no Evangelho recebem o sigilo do Espírito Santo.
Este hino paulino contém a visão da história que São Boaventura contribuiu para difundir na Igreja: toda a história tem como centro Cristo, o qual assegura também novidade e renovação a todo tempo. Em Jesus, Deus disse e deu tudo, mas como Ele é um tesouro inexorável, o Espírito Santo jamais deixa de revelar e de atualizar o seu mistério. Por isso a obra de Cristo e da Igreja jamais regride, mas sempre progride
Querido amigos, invoquemos Maria Santíssima, que celebramos amanhã como Virgem do Monte Carmelo, para que nos ajude, como São Francisco e São Boaventura, a responder generosamente a chamada do Senhor, para anunciar o seu Evangelho de salvação com as palavras e antes de tudo com a vida.
Após o Ângelus Bento XVI dirigiu aos presentes a seguinte saudação em português:
Dirijo agora uma saudação especial para os peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente para os fiéis da Paróquia São José, de Bragança Paulista e para o grupo de Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, acompanhadas de professores de escolas brasileiras. Agradecido pela amizade e orações, sobre todos invoco os dons do Espírito Santo para serem verdadeiras testemunhas de Cristo no meio das respectivas famílias e comunidades, que de coração abençôo.
(Tradução:MEM)


Quando o silêncio é comunicação
Frei Patrício Sciadini, ocd, religioso, Carmelita Descalço; escreveu mais de 60 livros, publicados no Brasil e no exterior e atualmente é o delegado geral no Egito.
Hoje assistimos a um silêncio que oprime e que deve ser rompido com a coragem profética para que a cadeia das injustiças institucionalizadas não continue a silenciar milhões de pessoas que gritam no deserto.
Este silêncio de morte que vemos por ai desde o silêncio do medo que a máfia de todas as matizes espalham ao seu redor e o “não sei não vi, não escutei”, ao silêncio dos trabalhadores que diante de salários injustos não podem reclamar pelo medo de ficar sem trabalho e ter uma vida pior. Do silêncio das crianças abortadas que não podem nem gritar e nem defender-se ao silêncio dos presos e torturados que devem calar para que outros não sofram injustamente. Estes silêncios invadem os meios de comunicação que, a serviço de poderosos, falsificam a verdade e se colocam do lado do poder para ter cada vez mais um posto mais alto.
Há o silêncio do diabo que está ao lado dos justos e dos santos e com sua presença silenciosa invade o temor e insegurança, gerando o medo coletivo. Não é este o silêncio que deve ser mantido. Este silêncio deve ser rompido para que a voz da verdade possa ser ouvida em todos os lados e que nasça no coração das pessoas o silêncio da esperança que está para nascer. O silêncio é útero da sabedoria a verdade. É no mais profundo de si mesmo que o ser humano necessita descer não para escutar a si mesmo, as suas lamúrias e fracassos ou sonhos idealizados, mas sim para escutar a voz de Deus que o chama a assumir corajosamente a sua identidade de pessoa de cristão sem ter medo de nada e de ninguém.

O Papa, na sua catequese sobre o silêncio, nos recorda citando Santo Agostinho, “que na medida que o Verbo crescer, a palavra do homem diminui”. Aliás diante de Cristo verdade caminho e vida somente tem espaço para o silêncio. O caminho que deve ser percorrido é fugir do “barulho”, seja qual for, quer seja visivo com as imagens que as TV, internet e outros meios jogam com abundância dentro de nós e que nos impedem de refletir, de avaliar, não nos dão o tempo de avaliar os fatos porque quando você começa a pensar é outra imagem que vem e leva longe a primeira. O barulho auditivo que nos persegue todos os dias e sentimos que sempre mais é necessário gritar mais forte para que possa ouvir o barulho distante do outro, mas não escutá-lo.
É um burburinho que chega até nós, sons convulsivos, mas não inteligíveis. São músicas, são palavras que impedem o ser humano de saber “escutar-se e escutar aos demais”; recuperar o silêncio exterior é fundamental. Criar pelo menos uma vez por semana um “oásis de silêncio exterior”, onde possamos permanecer “a sós” duas ou três horas para ouvir a doce brisa que chega até nós e na qual o Deus da vida está escondido( 1 Rs 19, 12) Quando o silêncio é fuga se torna não comunicação, nervosismo, mal estar e espalha ao seu redor um clima de desconfiança e de tristeza.
Quando o silêncio é comunicação é como o perfume que faz sentir sua presença embora não seja palpável. É neste silêncio que devemos entrar novamente para compreender o que diz o místico João da Cruz Uma palavra falou o Pai, que foi seu Filho, e a fala sempre em eterno silêncio e, em silêncio, há de ser ouvida pela alma. Os místicos não são pessoas anti-sociais, mas exemplos de comunicação. Cada palavra que eles pronunciam é palavra de vida, de esperança, de alegria e de amor. E quando a palavra “é como espada a dois gumes que penetra até o miolo dos ossos” é para que seja operadora de conversão e de salvação. Somente quando o ser humano redescobrir a necessidade do silêncio para se medir consigo, com os outros e com Deus, saberá que a força do testemunho não é palavra, mas o silêncio, o doce silêncio. Dando a palavra ainda a João da Cruz:
A noite sossegada,
Quase aos levantes do raiar da aurora;
A música calada,
A solidão sonora,
A ceia que recreia e que enamora.(C 15)
É o momento de praticar o que Jesus nos ensina se queremos rezar, falar com Deus e escutar seu Filho bem amado: “desce em você, fecha a porta e fala ao Pai.” (Mt 6)