domingo, 16 de setembro de 2012


"A liberdade religiosa tem uma dimensão social e política indispensável para a paz"

Encontro de Bento XVI com as autoridades políticas e religiosas libanesas no Palácio Presidencial de Baadba

BEIRUTE, sábado, 15 de setembro de 2012 (ZENIT.org) - No segundo dia da sua visita pastoral no Líbano, o Papa Bento XVI passou a maior parte da manhã no Palácio Presidencial de Baadba, onde se reuniu com as principais autoridades políticas e religiosas do país.
Em primeiro lugar, em dois momentos diferentes, na Sala dos Embaixadores do Palácio Presidencial, o Santo Padre conversou com o presidente da República Libanesa, Michel Sleiman, e com o primeiro-ministro Nabih Berri, na presença dos seus respectivos familiares. Cada um dos encontros terminou com o ritual da troca de presentes e com a entrega de uma cópia da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Ecclesia in Medio Oriente.
Bento XVI teve outros colóquios com os líderes das Comunidades muçulmanas Sunita, Xiita, Drusa e Alawita, na presença do Cardeal Secretário de Estado Tarcisio Bertone, do Patriarca de Antioquia dos Maronitas, Béchara Boutros Raï, do Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Cardeal Jean-Louis Tauran, e do Núncio Apostólico no Líbano, Mons. Gabriele Giordano Caccia.
Terminado os encontros privados, o Santo Padre e a delegação de autoridades libanesas foram ao Jardim do Palácio Presidencial, onde houve o simbólico plantio de um cedro do Líbano, para depois irem para o Salão “25 de maio” onde, depois da introdução do presidente Sleiman, Bento XVI pronunciou o próprio discurso.

O Papa começou saudando os presentes, dizendo: «Salàmi ō-tīkum»", expressão em aramaico com a qual Jesus Cristo afirma: "Dou-vos a minha paz" (João 14, 27).
Aludindo ao pequeno cedro plantado pouco antes, o Pontífice disse: "Vendo esta pequena árvore e os cuidados que precisará para fortalecer-se até poder espalhar os seus ramos majestosos, pensei no vosso país e no seu destino, nos Libaneses e nas suas esperanças, em todas as pessoas desta Região do mundo que parecem conhecer as dores de um parto sem fim".
Por que, então, o Líbano, "que tem visto o nascimento de grandes religiões e nobres culturas", "vive na tempestade"? Deus escolheu esta região, disse o Papa, "para que seja exemplar, de modo que testemunhe diante do mundo a possibilidade que o homem tem de viver concretamente o seu desejo de paz e de reconciliação!”
O Santo Padre referiu-se depois à riqueza de uma sociedade como a libanesa, onde a "unidade" não deriva da "uniformidade", mas dos valores comuns da "dignidade do homem", da defesa da vida e da busca da paz.
Negar esses princípios ou permanecer indiferentes impede "o respeito desta gramática, que é a lei natural inscrita no coração do homem", uma lógica que "desqualifica não somente a guerra e os atos de terrorismo, mas também todo atentado à vida do ser humano, criatura querida por Deus".
As guerras, o desemprego, a corrupção, a pobreza, a exploração, o terrorismo, além de gerar um “sofrimento inaceitável” para aqueles que são vítimas, produzem um “enfraquecimento do potencial humano”.
"A lógica económica e financeira - disse o Papa - sempre quer impor o seu jugo e fazer prevalecer o ter sobre o ser! Mas a perda de qualquer vida humana é uma perda para toda a humanidade".
A harmonia do "viver juntos" só é alcançada quando a solidariedade prevalece "para rejeitar o que impede o respeito de cada ser humano" e também "para sustentar as políticas e as iniciativas voltadas a unir os povos de modo honesto e justo”. Portanto as diferenças culturais, sociais e religiosas “devem levar a viver um novo tipo de fraternidade, onde o que une é o sentido comum da grandeza de cada pessoa, e o dom que ela é para si mesma, para os outros e para a humanidade”. São estes os fatores que podem levar “para o caminho da paz”.
A cultura da paz, acrescentou Bento XVI, é realizada em primeiro lugar com a educação, que seja na família que na escola, "deve ser antes de mais nada educação aos valores espirituais que conferem à transmissão dos conhecimentos e das tradições de uma cultura e o seu sentido e a sua força”.
Tarefa da educação é, portanto, "acompanhar a maturação da capacidade de fazer escolhas livres e justas, que possam ir contra a corrente com relação às opiniões difundidas, às modas, às ideologias políticas e religiosas”.
O mal, disse ainda o Santo Padre, não é uma “força anônima” que age no homem “de modo impessoal ou determinista”, mas algo que passa por “por meio do uso da nossa liberdade”. E pisoteando o primeiro mandamento, amar a Deus, chega-se a “perverter o segundo, o amor ao próximo”.
No entanto, é possível “não deixar-se vencer pelo mal e vencer o mal com o bem (cf. Rm 12, 21)." Sem a conversão do coração “as liberações” humanas tão desejadas decepcionam, porque se movem no espaço limitado concedido pela estreiteza de espírito do homem, pela sua dureza, pelas suas intolerâncias, pelos seus favoritismos, pelos seus desejos de vingança, pelos seus instintos de morte”.
Esta conversão, entretanto, é "emocionante - disse o Papa - porque abre algumas possibilidades apelando para muitos recursos que habitam no coração de tantos homens e mulheres que querem viver em paz e estão prontos para trabalhar para a paz."
Bento XVI também mencionou a convivência entre as culturas e religiões, da qual o Líbano é um símbolo há séculos. "Não é incomum - observou – ver na mesma família várias religiões. Se numa mesma família isso é possível, porque não deveria ser a nível de toda a sociedade?".
A questão fundamental é, portanto, o princípio da liberdade religiosa, "direito fundamental do qual dependem muitos outros". Essa é uma “dimensão social e política indispensáveis para a paz” e deve ser protegida de tal forma que cada um possa “viver livremente a própria religião sem pôr em risco as próprias vidas."
O Papa, no entanto, advertiu contra a "chamada tolerância” que “não elimina as discriminações, mas por vezes, as fortalece”. E acrescentou: “A inércia dos homens de bem não deve permitir que o mal triunfe. E não fazer nada é ainda pior”.
Pouco antes de despedir-se, para retornar à Nunciatura Apostólica de Harissa, Bento XVI pediu que as suas reflexões de hoje não permanecessem "ideais simplesmente enunciados", uma vez que "podem ​​e devem ser vividos". Portanto ele incentivou os líderes políticos e religiosos presentes a “testemunharem com coragem” em torno de si mesmos, "no tempo oportuno e inoportuno”.

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