terça-feira, 31 de maio de 2011

FRAGMENTOS DE UMA VISITA FRATERNA….

Aos sete dias do mês de Maio, depois de uma longa peregrinação aérea, cheguei ao Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos – Governador André Franco Montoro (conhecido popularmente também como Aeroporto de Cumbica). É o principal e o mais movimentado do Brasil, localizado no estado de S. Paulo, na cidade de Guarulhos no distrito de Cumbica, distante 25 km do centro de S. Paulo, principal metrópole que o aeroporto serve.Com a autorização de pouso, rodas em ponto de aterragem, uma salva de palmas ecoou como que agradecendo a boa viagem e a chegada de todos a bom termo. Esperavam-me a ir. Ana Judite e um irmão da Postulante Marina, que nos conduziu até casa.
A noite fazia-se sentir e o tempo estava fresco, o céu nublado, daí que a temperatura era agradável, fazia um pouco de confusão a poluição que se sentia no ar que se respirava, mas a habituação vai acontecendo aos poucos e já nada é estranho. As irmãs, cada uma ainda nos seus serviços, foram chegando aos poucos, pois o sábado é dia de pastoral e não dá para respirar.
Decorria na paróquia das irmãs, a novena preparatória para a celebração da padroeira Nossa Senhora de Fátima, daí que no dia em que cheguei, havia Eucaristia em casa. Graças a Deus pude de uma forma diferente celebrar a alegria do encontro com as irmãs, fortalecendo-nos da mesma Palavra e da Eucaristia momento alto de acção de graças por tudo o que se faz vida na vida de cada irmã.
A mudança de horário é grande e faz-se sentir. Quatro horas de diferença. Um habituar à cama, umas dores de costas, pois o dia foi todo passado com as pernas encolhidas, mas o descanso deu para quebrar o galho. No Domingo a Eucaristia também foi em casa. Para mim foi mesmo graça, pois andava com uma perna meia arrastada e a Igreja fica bem longe de casa e o carro por acaso, só tem duas rodas e o mais engraçado é que cada um é motorista do seu.
Este Domingo, era o dia da Mãe. Esta efeméride no Brasil é celebrada com enfâse, mas o Amor à Mãe do Céu com o título de Nossa Senhora de Fátima é muito grande! Os cantos a Maria são cheios de emoção e fervor, o que é típico do Povo Brasileiro.
Na segunda-feira, a madrugada foi maior, pois não se pode deixar o trabalho, daí que tive de fazer a reflexão com as irmãs logo pela manhãzinha. A visita decorreu com muita calma e serenidade. Sob a protecção de Maria que em cada dia nos acompanhava em cada celebração. A Sua festa foi apoteótica foi no dia 13 de Maio na Paróquia. Tive a sensação de que o meu coração estava em Fátima ao ouvir entoar o Avé de Fátima e o Treze de Maio. A Igreja era pequena para a multidão de gente e a procissão foi algo de comovedor. Foi uma experiência de fé vivida no meio deste Povo que reza pela Nação Portuguesa, pelo povo irmão, em primeiro lugar e depois reza pela sua nação, confiando as duas à protecção de Maria.
A chuva caia, a frescura fazia sentir-se não se tirava nem o casaco nem as meias e numa das noites o frio foi tanto que os pés só aqueceram com um saco de água quente… Parece mal dizer isto, mas foi mesmo assim…
As coisas vão passando e o tempo não perdoa. Na casa havia um computador que cansou e, coitado, ficou “desmiolado” sem memória, o pobre nem arrancava. Ainda queriam ver se recuperavam a sua tão gasta massa cinzenta, mas não deu mesmo. Era necessário comprar um novo, bem como outros apetrechos informáticos. Lá fomos um dia fazer uma visita a alguns lugares onde poderíamos encontrar um aparelho destes.
O célebre Kalunga, centro comercial que nem sei descrever, foi o visitado, mas naquele momento não havia nada de jeito. Fomos noutro lugar, onde os vimos, mas não tínhamos dinheiro suficiente para fazer o negócio… Toca de o comprar e pagar às prestações, pois não havia outra solução naquele momento, mas o pior é o cadastro que fica de quem o compra. Meu, Deus, foi uma manhã inteira e quase uma tarde, pois a ir. Sameiro andou de Anás para caifás para deixar tudo direitinho. No fim não tivemos outra solução a não ser vir para casa de Táxi, que por sinal era de um Japonês bastante simpático.
Arrumar a mercadoria, esperar o técnico que nunca mais chega, assim se passou o dia. Quando chegou no dia seguinte já tudo estava montado no seu devido lugar. Depois de feito o discernimento bem feito era necessário comprar mais dois computadores portáteis, um para a casa e outro para a comunidade do Acre para o serviço Pastoral. Toca de apanha de novo o ônibus e ir outra vez à cidade, mas sem dinheiro fintadas nos cartões de crédito que só nos deram um “códia” que obrigou outra irmã de casa levar-nos o restante dinheiro para levantar a mercadoria. O Brasil tem destas coisas e ninguém sabia qual era o tecto dos cartões. Na ida ao centro de S. Paulo, dar uma volta pelas livrarias religiosas, a coisa foi outra! Desta vez foi o cartão e dinheiro, é que “gato escaldado, a água fria tem medo”.
No final das compras era noite e hora de ponta, o que significa que não se podia entrar no Metro nem no Ônibus, pois a gente é aos montes. Vamos de táxi? Sim podemos ir pois os descontos feitos já dão para o táxi, respondeu a irmã, mas antes vamos comer alguma coisa. O taxista perguntou para onde íamos e lá se disse o nome da Avenida: Sapopemba, mas ele nem conhecia a Porfírio da Paz, o pior é que Sapopemba é das maiores avenidas de S. Paulo… Era noite, depois de algum tempo de viagem, o coração começou a ficar apertado… De repente, o carro para e o senhor diz: desculpem, mas tenho de ir ao banheiro não sou capaz de conduzir com a bexiga cheia… Pior ainda, saiu do carro e deixou tudo aberto, que medo senti, nem palavra que disse… Seguimos com chuva e a escuridão da noite afligia… Andamos por ali às voltas e, finalmente, lá demos com a casa, que alívio!… O cansaço era tanto que deu só para comer alguma coisa e ir arranjar a mala para no dia seguinte sair de madrugada para apanhar o avião para o Acre….
Um pequeno susto com a TAM ao longo da semana, noticiado na TV Globo e lá estávamos nós de bagagem despachada para Rio Branco fazendo uma viagem de mais de cinco horas na TAM. É obrigatório fazer escala em Brasilia, mas desta vez foi pequena. O céu estava claro o desafio lançado pela mãe natureza lá em baixo era o convite feito à contemplação. Que maravilha! Pouco a pouco fomo-nos aproximando do Estado da Rondónia com a sua capital em Porto Velho.
Não dá para descrever o verde da floresta amazónica que faz parar o coração quando se pensa interiormente: Meus Deus, se algo acontecesse, ninguém nos descobria nem chegava nesta vasta floresta que não dá espaço para ver um palmo de terra, apenas um fio de onde em onde como que a assinalar um curso de água. A amazónia tem a mais rica e variada fauna e flora tropical. A amazónia é uma dádiva da natureza ao Brasil e este e o resto do mundo dependem dela. O comandante avisa que já tem ordens para aterrar. Cintos apertados, poltronas direitas, tudo em ordem para que a aterragem corresse bem. A temperatura era tropical, muito calor… Chegamos. O aeroporto de Plácido de Castro, fica a dezasseis quilómetros da capital e sessenta até Vila Campinas. Com a Graça de Deus chegamos bem, conduzidas pela Ir. Ana Judite que nos esperava conduzindo o carro da comunidade, lá fomos: Ir. Glória Veloso, Sameiro Vieira, Natália Ferreira e Marina Sabino. Esperavam-nos a Ir. Raquel e Assunta.
A calma e o sossego envolvem-nos o calor faz-se sentir, mas a água salgada escorre pelo nosso corpo como se de uma fonte se tratasse.  Faz-se o programa para a semana e depois de comer, fomos ao descanso, que coitado do irmão corpo, de tão baralhado que está, nem dá para dormir, pois aqui o horário é diferente de S. Paulo e o clima é mais duro… mas aguenta-se. Há ventiladores que amenizam as altas temperaturas e afugentam os mosquitos.
Esta semana a Ir. Raquel não foi trabalhar. O seu posto de serviço é com os leprosos da colónia Sousa Araújo, hoje Hospital, uma sucessão de moradias brancas, todas de alvenaria, onde estão os doentes da lepra. A primeira vez que visitei este espaço, fiquei surpresa! Mas também dei conta de que eles logo fazem esquecer as suas deficiências. Fica longe de Rio Branco, no meio da mata virgem.
Nesta visita à comunidade de S. João Evangelista do Acre, teríamos um acontecimento importante para celebrarmos juntas. Eram as Bodas de Prata da Ir. Raquel Chitalala, que ela quis celebrar em Vila Campinas e também celebrar, associar, as bodas de ouro das irmãs Natália Ferreira e Assunta em missão no Acre. Era necessário cuidar de tudo, mas para além da preparação material, era necessária a espiritual, que foi precedida de um tríduo, onde estiveram envolvidas as irmãs, os Freis Capuchinhos que são os párocos e os fiéis da comunidade. Sendo a Ir. Raquel a Vigária Paroquial, a participação do Povo de Deus fez-se sentir mais, embora aqueles que vivem nos ramais não se puderam deslocar, pois a chuva ainda se faz sentir e não há transporte para vir até à Igreja mãe.
Frei Cícero, que foi baptizado de frei “cifro”, preparou um lindo Power point mostrando alguns traços das festejadas. Foi a ele que coube a missão de ajudar a perceber o motivo da celebração, com as suas admonições bem-feitas e na hora certa. A Igreja estava quase cheia o que é de estranhar neste lugar ainda descristianizado. Os jovens e as crianças sorriam com as suas túnicas bem coloridas costuradas pela, ir. Assunta, o canto festivo e bem ritmado abrilhantou a celebração presidida pelo Bispo da Diocese: D. Joaquim Pertinez, acompanhado pelos Freis Sérgio, Cícero e Derson. Estavam presentes as irmãs Servas Reparadoras de Nossa Senhora e as Josefinas com quem trabalha a Ir. Raquel. Fizeram-se ainda presentes, alguns coordenadores dos ramais.
A Eucaristia foi o momento alto deste dia, e a beleza do canto e da dança, abrilhantaram a celebração. As palavras de D. Joaquim, foram de estímulo, de esperança e de apreço pelo trabalho das irmãs. Pediu ao povo que soubesse estimar o melhor presente que o Senhor lhes tinha concedido e com elas colaborassem na missão do anúncio do Evangelho. Com muito carinho pediu à Ir. Raquel que falasse para o povo porque estava ali e como foi a sua caminhada vocacional, depois convidou a Ir. Natália que falasse também da sua experiência na missão e da vocação.
Ainda este ano a comunidade paroquial de Nossa Senhora da Aparecida, assim se chama, terá a sua consagração como Paróquia. O empenho vai ter que ser maior e a entrega e doação por parte das irmãs vai ter que ser mais sacrificial.
Depois da homenagem a Nossa Senhora da Aparecida, coube-me em breves palavras agradecer aquele momento e a quantos tinham doado seu tempo para que tudo corresse maravilhosamente em todas as áreas. Só houve um susto no meio da celebração: um barulho forte e ficou tudo assustado, suspenso com alguns gritos vindos de fora. O que aconteceu? Uma panela de pressão estourou e para além dos estragos causados, poderia ser pior pois alguém poderia ter morrido, mas graças a Deus foi só susto.
O almoço estava uma delícia. Servido no barracão da Igreja e confeccionado com gosto e temperado à maneira. Muita ordem, o self-service, também funciona de formas diferentes, cada um soube esperar a sua vez, desde o Bispo aos restantes. Toda a gente comeu a galinha caipira, o milho cozinhado de tantas formas, o arroz, o macarrão com maionese, o estrogonofe de vitela etc… Todos comeram e ficaram saciados.
O bolo tinha 15 quilos estava lindo e saboroso. A partilha de todos tornou mais rico este momento, pois as galinhas vieram dos ramais e um amigo ofereceu a vitela, que não era inteira, mas andou por perto…Tudo foi confeccionado pelas senhoras mais comprometidas na Igreja e com maior ligação com as irmãs. Pelo fim da tarde, fez-se cair uma chuva tropical tocada de todos os lados que metia medo, mas no final o calor foi ainda mais intenso e sufocante.
Foi um terminar a visita à comunidade com uma chave de ouro revestida de muita simplicidade e paz.
Aproximava-se o tempo da partida para S. Paulo. Mais um dia de viagem. Tudo correu bem de novo. A noite de Brasília vista do alto é maravilhosa, para não dizer que S. Paulo à noite fica magnifica!
Chegamos a casa já muito tarde. O motorista não sabia muito bem o caminho e andamos aos ziguezagues para finalmente chegar a casa quase à meia-noite. Foi momento de dirigir ao Senhor uma prece por tudo o que de bom tinha acontecido ao longo do dia. Faltavam três dias para regressar a casa. Voltei a sair à cidade, pois aproxima-se a trezena de Santo António e a Ir. Sameiro como coordenadora da comunidade eclesial deveria preparar algo para oferecer aos sacerdotes que iam participar na trezena. Foi uma visita rápida, pois quando se sabe onde se vai e o que se quer é mais rápido.
Dediquei os dois dias que faltavam para o meu regresso à leitura e reflexão, pensando no que vem aí pela frente. O tempo foi mais propício para o silêncio e para o encontro com o Senhor e a convivência com as irmãs.
Fiz uma viagem pela Amazónia que não conheço pessoalmente, mas pela leitura e pela pesquisa fui capaz de viajar por um espaço que pelo tamanho engana os nossos sentidos. Ela é uma imensa dádiva vegetal, cenário de turismo paradisíaco, que vive ameaçada pelo fogo e pela motosserra. A Amazónia legal é constituída pelos estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondónia, Roraima, Tocantins e grande parte do estado de Maranhão e Mato Grosso.
Cristo o Caminho, a Verdade e a Vida, apresenta-se-nos de tantas formas que nem sabemos descobrir a beleza que engloba a Criação. O Seu Espírito Criador deixa-nos submersas num mundo tantas vezes de ingratidão e até de destruição do Mundo criado. A Missão também passa pelo apreço e pelo Louvor ao Pai Criador de todas as coisas. Viver o dom e alegria da fraternidade é estar em sintonia e amor com todos os dons que nos são presenteados pelo Criador. O espírito contemplativo repassa a nossa alma quando amamos, respeitamos e damos valor à vida que tão generosamente nos é oferecida.
Dos sorrisos cândidos das crianças, do experimentar a pobreza do povo, do partilhar a Paz e o amor que vem de Cristo, do rezar a Palavra com o povo que dá passos na descoberta da beleza da Boa Nova de Jesus é missão forte. O clima é desgastante, mas compensador. Os pobres batem à nossa porta e são atendidas na medida do possível as suas necessidades. Todo o serviço pastoral é sinal do amor de Deus presente no meio dos que procuram o Reino de Deus e ainda não o encontraram.
Porque faltam braços e coragem para a Missão? A Igreja é Missionária. A Congregação é Missionária. Mas a Missão para quem é? Só para algumas?
É consolador olhar a entrega feita diariamente pelas que se cansam e se preparam para melhor servir os irmãos.
No meio de lutas e dificuldades, a vida vai sorrindo e as sementes vão sendo lançadas num solo árido e seco, daí que leva o seu tempo a germinar e a crescer.
Que o Senhor abençoe as obreiras que Ele envia para a Missão e com generosidade e ânimo de alma e coração, dão a conhecer Cristo e o Carisma, sendo testemunhas humildes e simples do Seu Amor para connosco.

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